quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Consumo de álcool pode levar à necrose da cabeça do fêmur, uma das causas de artrose no quadril.

Oriunda do grego nékrosis, a palavra necrose significa mortificação. E é exatamente a morte de células por causa de problemas na circulação do sangue o que acontece com a cabeça do fêmur de um número razoável de pacientes que procuram os ortopedistas, sobretudo os especializados em doenças do quadril. Maior osso do corpo humano, o fêmur faz a ligação do quadril com o joelho, duas partes da anatomia que costumam levar bastante gente aos consultórios ortopédicos.



Segundo o Dr. Ricon Jr., diretor do Centro Ortopédico de Ipanema e especialista em doenças do quadril, a ingestão de bebidas alcoólicas em algumas pessoas predispõe ao risco de se necrosar a cabeça do fêmur. "Parece que não há uma relação entre a quantidade ingerida de álcool e o aparecimento da doença. Há casos de pessoas que bebem duas a três latas de cerveja três a quatro vezes por semana e desenvolvem o problema", alerta o médico.



Um trabalho publicado no Clinical Orthopaedic Related and Research, um dos mais conceituados veículos da área de ortopedia, mostra que pessoas que consumiam mais de 400 ml de álcool por semana tinham um risco 11 vezes maior de osteonecrose do que aqueles que não bebiam. A incidência de necrose dos ossos em consumidores de álcool é, segundo este trabalho, de 1 a 2%, podendo aumentar de acordo com o maior comprometimento do fígado e do pâncreas.



Alguns outros fatores estão por detrás da doença, como, por exemplo, o uso de corticóides para tratar enfermidades crônicas. "Alterações bruscas e constantes da pressão atmosférica, chamadas de disbarismo, também podem desencadear o quadro. Isso pode ocorrer com mergulhadores de profundidade e trabalhadores de minas quando não fazem a chamada descompressão corretamente", explica o Dr. Ricon Jr.



Outras possíveis causas são o aumento crônico do acido úrico associado ao alcoolismo e ao uso de corticóides; doenças do sangue como leucemias, linfomas e anemia falciforme, onde a hemácia apresenta uma forma de foice e provoca oclusão dos vasos microscópicos; a irradiação usada para tratar tumores; o uso de drogas imunossupressoras para transplantados; e a Doença de Gauchern. "Existe, ainda, a necrose que acontece após as fraturas do colo e da cabeça do fêmur. No entanto, cerca de 25% dos casos da doença ainda são de causa desconhecida", diz Ricon Jr.



A luxação traumática do quadril, se demorar a ser tratada, também pode levar à necrose por interrupção do fluxo sangüíneo. "Este tipo de necrose atinge com mais freqüência os pacientes idosos, após as cirurgias para fixação das fraturas com placas e parafusos. Por isso, um idoso que já foi operado do colo do fêmur e que começa a sentir dores nas pernas e no quadril pode estar com uma necrose da cabeça do fêmur", afirma o especialista.



A faixa etária mais atingida pela doença vai dos 20 aos 40 anos. Sabe-se hoje que homens das etnias negra ou parda são mais sujeitos à necrose idiopática (aquela em que não se define a causa). Já as mulheres são mais afetadas por uso de corticóides para tratamento de doenças do colágeno, como o lupus eritematoso e a artrite reumatóide. Segundo o Dr. Ricon Jr., ainda não há um consenso médico acerca da predisposição genética da doença.



Com os problemas de circulação e a conseqüente necrose, a cabeça do fêmur chega a mudar de formato, que passa de redondo para oval ou quadrado. O resultado é o aparecimento de dores e incômodos na região do quadril. "Os sintomas são dor na virilha e nádega, que se irradiam para a face lateral ou interna da coxa; mudança da maneira de andar; encurtamento da perna afetada; e diminuição dos movimentos, seguida de incapacidade física progressiva", conta o médico.



Para ser tratada de uma forma adequada, a doença precisa ser diagnosticada precocemente. Porém, segundo o Dr. Ricon Jr., o diagnóstico precoce da doença é difícil. "O problema é muitas vezes confundido com distensão ou inflamação muscular. A história clínica do paciente associada a exames de imagem como raio-x ou ressonância magnética possibilita um diagnóstico mais preciso, principalmente quando já existe comprometimento da cabeça do osso. A cintilografia óssea, um outro exame que avalia a circulação de sangue na cabeça do fêmur, pode ser necessária", diz.



O tipo de tratamento mais indicado depende do estado em que se encontra a doença, capaz de evoluir para um quadro de artrose de quadril, se não for tratada a tempo. "No paciente que ainda não apresenta alterações no formato da cabeça do fêmur, o tratamento inicial visa a combater a dor. Para isso, é necessário restabelecer a pressão sanguínea dentro da cabeça femoral. Normalmente são feitas pequenas perfurações que restabelecem a drenagem do sangue no local", explica Ricon Jr.



"Quando já existe comprometimento do formato da cabeça do fêmur, fazemos cirurgias chamadas de osteotomias para a retirada do osso morto e colocação de osso vivo do próprio paciente ou recuperação da área de contato com o acetábulo - região da bacia que se articula com o fêmur. Quando existe artrose secundária, indico a colocação de prótese para melhorar a dor e a qualidade de vida do paciente. Mesmo nos mais jovens, é a melhor solução, pois hoje dispomos de próteses especiais para as diversas faixas etárias", conclui o especialista.

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